A história de Steampunk: Manimatron é passada numa Inglaterra alternativa do séc. XIX, na qual um déspota com tendências melodramáticas usurpou o trono e lançou o pais numa época forçada de industrialismo frenético. O smog cobre o céu sobre Londres, e os habitantes parecem-se pouco com os humanos que costumavam ser, uma vez que toda a gente tem algum tipo de modificação corporal – asas, braços e pernas mecânicos, corpos de aranha - a imaginação (e o acesso a matérias primas) é o limite. Lord Absinthe, o usurpador, é o típico soberano sedento de poder, com um caso sério de complexo de Deus. Os aristocratas deixam-se levar pelos privilégios da nova sociedade, enquanto que as classes mais baixas, horrivelmente desfiguradas e exploradas, ocupam o seu tempo a tentar sobreviver e a sonhar com uma revolução.
Chris Bachalo tem vindo a habituar os fãs a uma arte visionária, detalhada e energética. Nisso, o livro não falha. Todavia, é triste quando as boas ideias são traídas por uma execução pouco brilhante. No caso específico de Manimatron, temos a construção de um mundo original, visualmente interessante e com potencial, que é minado por personagens cliché, uma história relativamente banal, diálogos densos e sem sentido, design de páginas confuso e lettering quase indecifrável.
As personagens apresentam um design visual excelente, perfeitamente integrado no mundo em que se inserem. Os trajes e modificações miscelâneas reflectem o lado mais prático, tecnológico e cru da sociedade, embora a tecnologia avançada de vapor em si seja considerado um luxo apenas acessível aos membros da alta sociedade. No entanto, todas as personagens são típicas: o vilão típico que só quer ter poder e dominar o mundo, o herói masculino, forte e silencioso, a bela e gentil rapariga que é alvo das afeições do herói, a personagem feminina badass moralmente ambígua (completa com o já esperado impressionante par de atributos femininos), e as personagens secundárias de comic relief.
O design do mundo é igualmente detalhado e planeado até ao pormenor, e teria funcionado melhor se os painéis não estivessem tão completamente preenchidos por informação. Assim, tornam-se difíceis de decifrar, dificultando a imersão na história. Certamente, esta dificuldade é tão óbvia que só pode ter sido deliberada, talvez para tornar a banda desenhada mais complexa e intricada; no entanto, depois de decifrada, a história é demasiado simples para suportar tudo o resto. Muito estilo e pouca substância, poderia dizer-se.
Este é um livro que divide opiniões: de um lado, os fãs, que acusam os restantes leitores de serem preguiçosos e de criticarem tudo aquilo que não seja simples de apreender; do outro, aqueles que acham que a densidade e complexidade são utilizados para “mascarar” uma história banal e cliché. Pessoalmente, acredito que a marca de um bom storyteller em banda desenhada não é a dificuldade de leitura, mas sim a dança delicada entre a parte visual e a parte escrita, o equilíbrio entre a complexidade e subtileza. Apesar de tudo, o mundo é suficientemente bom para manter o interesse, e a história poderá surpreender no segundo volume.